21 de setembro de 2011

Crônica de um Aprendiz de Craque

Observando o craque Romário às vésperas do seu milésimo gol e considerando que temos a mesma idade e alturas semelhantes (meço 1 cm a mais e nisso eu ganho do Baixinho) fiquei e me perguntar: por que ele se encontra próximo a história marca e não eu?
Explico: já fui craque, acreditem, goleador do time de moleques do conjunto residencial (“condomínio” é coisa da moderna classe média) onde morava em Inhaúma.
Tratava-se do glorioso Botafoguinho, camisa escolhida em virtude de nenhum dos bravos jogadores torcerem pelo time da estrela solitária, e que marcou época por suas atuações no campinho de areia ao lado do conjunto. Concebido por Seu Maurício, um Sargento da PM que encontrou no futebol uma maneira de socializar seu tímido filho, tinha com time-base a seguinte escalação: Reginaldo no gol; na Zaga, Tadeu, um clássico beque de roça que chutava para onde o nariz apontava; no meio campo- Maurinho, filho do Seu Maurício e Paulinho, já na época um volante moderno (ainda se usa o termo “volante” para cabeça-de-área”?) . O ataque era composto por mim e Taiaia, cujo apelido provinha de suas incompreensível articulação das palavras, lembrando um chinês quando falava. Cinco na linha e um no gol.
Éramos praticamente imbatíveis, se bem que no conjunto, além do Botafoguinho, existiam apenas dois outros times: Um era o Estrela, formados por alguns perebas que não tiveram chance no Botafoguinho e tinha como uniforme uma camisa branca da Hering com um estrela vermelha costurado no peito. Como as mães dos jogadores foram as responsáveis pela camisa de cada filho, alguns atletas exibiam no peito a estrela de cinco pontas, enquanto outros usavam no uniforme a indefectível Estrela de Davi.
A outra equipe era o Fluminensinho, que existia mais virtualmente. Alguém possuía um surrado jogo de camisas tricolores que era distribuído aleatoriamente entre os garotos da região que improvisavam um esquadrão para nos enfrentar quando o Estrela por algum motivo esta impedido de medir forças com o nosso Dream Team.
Mas, o que o Romário tem a ver com essa história?
É que, dada a fragilidade dos nossos adversários, eu e Taiaia nos destacávamos como duas máquinas  mirins de fazer gols. Acreditando em nosso talento com a bola nos pés, o pai de Taiaia resolveu nos levar para um teste nas divisões de base de um time chamado Everest. Seria a  nossa chance de calçar chuteiras e participar de um campeonato da Federação. Acontece que  minha mãe não curtiu a ideia de me deixar sob a guarda momentânea do pai do Marquinhos, verdadeiro nome do Taiaia. Na época um menino havia morrido atropelado nas cercanias do nosso conjunto quando saiu com um grupo para jogar futebol. A arte da prudência falou mais alto e mamãe vetou a empreitada.
Pois é. Minha carreira futebolística foi abruptamente interrompida. Terminou antes de haver começado. Nem sei se o Taiaia foi fazer o tal teste e, assim, Romário não teve um atacante de peso para rivalizar com ele nos gramados cariocas.
Dois meses depois, descobri-me míope e aos poucos abandonei o esporte bretão. O mundo acabou perdendo um atacante presunçoso e ganhou um cronista pra lá de medíocre. Sorte do futebol, azar da comunidade literária brasileira.


Escrita em 2007 e desengavetada após declaração de Cristiano Ronaldo sobre a inveja que o persegue pelo fato de ser bonito, rico e craque. Eu, que não possuo nenhum dos três atributos, posso dormir em paz, longe dos invejosos.



2 comentários:

  1. Craque é craque!
    Seja fazendo gols, escrevendo crônicas ou fazendo o portugay se torcer de inveja, afinal ele nunca fez dupla de ataque com o Taiaia!

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