16 de setembro de 2011

Considerações Metropolitanas

Na última quinta-feira cometi uma proeza nesses meus tempos de distônico cervical. Usei o metrô, algo que não fazia há três anos desde que um sábio da engenharia de transportes decidiu acabar com a transferência na estação Estácio, sobrecarregado o sistema com uma absurda quantidade de passageiros. Distonia cervical, ainda acompanhada de subluxações nas vértebras do pescoço, não vem com manual de instruções e, reza as artes da prudência, que o contemplado fique afastado de eventos que possam comprometer a sua coluna.  Assim, uma viagem dentro do superlotado metrô carioca seria um convite ao agravamento da situação.
Eram apenas três estações até o consultório médico e o horário, em torno das 10 horas da manhã, se fizeram convidativos e resolvi arriscar. É dura e cara a vida de quem depende de taxis para se locomover e, pensando nos trocados economizados, cheguei à porta da estação.
Algumas coisas haviam mudado. Um curral de cordas foi criado para organizar a fila única até as bilheterias, algo desnecessário ao meu entender, visto que apenas uma das bilheterias estava em funcionamento. Agora também existe uma máquina para recarregar cartões de magnéticos, um self-service que só os ases da informática devem ser capazes de tirar proveito (sempre fico com dó dos velhinhos, que nunca conviveram com essas geringonças eletrônicas e são obrigados e se virarem diante de um caixa automático ou coisas assemelhadas). Mas, meu caso era pagar em espécie e espantei-me com o valor, três reais e dez centavos contra os dois e trinta e cinco do tempo em que eu era usuário e andar de metrô ainda era praticável e não uma aventura. “São só três estações, lembra-se?”, consolei-me.
Impressionou-me muito mal a péssima conservação da estação, antes, impecavelmente limpa. Como em três anos o metrô pode decair tanto? A privatização? Não. O metrô já estava nas mãos do empresariado há algum tempo. Descaso e falta de fiscalização do poder público talvez seja a melhor resposta. A sujeira era visível e as paredes com suas placas informativas apagadas por algum breves momentos me remeteu ao metrô em frangalhos no segundo filme da saga do Planeta dos Macacos e a cena do General Urco vendo um cartaz no vagão abandonado e descobrindo a origem da sua espécie. Um tanto exagerada a comparação, eu reconheço, mas a imaginação de um ficcionista funciona em qualquer hora e local.
A viagem foi tranquila. Fui em pé, contudo sem atropelos, em um vagão que possivelmente participou da inauguração do transporte metropolitano na cidade do Rio. O trem permaneceu parado aguardando a normalização do trafego em duas das três estações. Desci no Largo do Machado com a sensação de que, o outrora melhor meio de transporte do carioca transformou-se em uma lembrança para contarmos as futuras gerações.
À noite, um telejornal informa que os prometidos novos trens que melhorariam o sistema do metrô e que estão sendo fabricados na China demorarão um pouco mais. O terremoto no Japão foi a inusitada desculpa que se junta a um atraso de mais de um ano e meio. Novo prazo, fevereiro de 2012 para a chegada do primeiro trem. Considerando que, se os Maias estiverem corretos em suas previsões e o mundo se acabar em dezembro do próximo ano, é possível que um novo adiamento da chegada dos tais trenzinhos deixem os cariocas, com o perdão da brincadeira infame, a “ver navios”.
Em tempo: as mundialmente conhecidas esfirras do Largo do Machado continuam estupendas. Pena que não possa se dizer o mesmo do metrô.

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