19 de dezembro de 2010

Dois Natais

Mais um natal se avizinhando em nossas vidas. Alguns foram ótimos, outros nem tanto, todos, entretanto deixando uma pequenina marca em nossas existências. Época de comprar presentes e, sobretudo de ganhar, ganhar, ganhar! Tá certo, o natal se transformou numa data consumista, onde uma reflexão sobre quem é e quais foram os propósitos do aniversariante enquanto esteve entre nós ficam para segundo plano, contudo, curto o natal e sua atmosfera de solidariedade envolvendo boa parte da raça humana neste dias que antecedem a data. Sociologismos à parte, dois natais marcaram especialmente minhas lembranças do tempo de criança. 

O primeiro natal do qual minha já quarentona memória consegue buscar foi também a primeira noite em que eu me lembro de ter passado acordado, coisa audaciosa para quem contava apenas seis ou sete anos de idade. Nesta noite, ganhei de presente um fusca de corrida movido à corda e uma ambulância cujo controle remoto funcionava ligado ao veículo através de um fio. Brinquedos paleozóicos em comparação ao que encontramos atualmente nas lojas e sites especializados. Todavia, o que mais me encantou naquela data, sendo o responsável direto pela minha insônia natalina, foi um livro de capa dura, com dimensões de um volume de enciclopédia, onde passeavam impressas as primeiras histórias em quadrinhos de alguns dos mais famosos personagens de Walt Disney. Varei a madrugada no meu quarto, sem que Morfeu me sequestrasse, sendo cúmplice das aventuras inaugurais do Mickey, Pateta, Tio Patinhas, Peninha, Pato Donald, Gastão, Huginho, Zezinho e Luizinho. Quando a fome me assaltava, ia à ponta dos pés até a sala e servia-me de castanhas, avelãs e frutas sobreviventes da ceia. 

Outro natal inesquecível ocorreu por volta dos meus dez anos de idade. Eu queira por demais ganhar uma mesa de futebol de botões. Minha mãe comprou a tal mesa e a escondeu atrás do armário do seu quarto. Desconfiado, passei dias indo sorrateiramente ao esconderijo e, sem que ninguém percebesse, com a ponta dos dedos furava o papel pardo que a embrulhava aquele retângulo ocultado pelo móvel, procurando indícios de que ali houvesse uma mesa. Para o meu desespero, a mesa que minha mãe comprara não era verde e sim na cor marrom do compensado. Picotei o embrulho por dias a fio, como uma cerimônia, uma novena, só obtendo a certeza de que eu ganharia a minha mesa de botões quando avistei o quarto de circulo que demarca a área de escanteio do campo de futebol através de um dos furinhos no papel de minha autoria. Na noite de Véspera do Natal eu fingia nada saber e, próximo à meia-noite, mamãe insistiu para que eu fosse desejar um Feliz Natal a um coleguinha do conjunto residencial onde eu morava. Claro que pelo adiantado da hora não havia amiguinho algum na área do prédio. Quando retornei, estavam todos com cara de que nada sabiam e encostada na parede minha mesa de futebol, com dois times de botões completos. Papai Noel havia passado e deixado um presente para mim, afirmavam os adultos. Não me lembro de haver um dia acreditado no bom velhinho e só muito tempo depois contei a minha mãe sobre as minhas excursões pré-natalinas atrás do seu armário. 

Natais felizes, de uma época mais romântica, que temo estar se perdendo.

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