2 de agosto de 2010

O Vírus Nosso de Cada Dia

A navegação se fazia em límpidas águas cibernéticas. Nenhuma marola virtual, tempestades afastadas. Uma ou outra demora em abrir um determinado site, mais pela caduquice do meu PC do que a conexão em velocidade de cágado manco. De repente, a desagradável surpresa! Um alerta de vírus! "Nada de pânico! Respire fundo, você está protegido!", tranqüilizei-me. "Não vá me dizer que não atualizou o antivírus!", bradou a voz interna da consciência. Temi o cyber-apocalipse por uma fração de segundos.

Certa apreensão tomou conta do cronista. "Maldita dúvida", lamentei. Sempre confiei nos fabricantes de software e suas garantias de que o antivírus é atualizado periodicamente por meio daqueles downloads automáticos que nos assustam a cada nova conexão efetuada. Contudo, a julgar o infinito número de vírus de computadores nascidos a cada dia, considerei a possibilidade de algum deles ter escapado da patrulha do fabricante, contaminado meu disco rígido.

Relaxa, sujeito. Se o antivírus detectou alguma coisa errada em seu computador, é evidente que o inimigo plantado em seu território será eliminado, varrido das cercanias do seu HD. Disfarçando o medo, fiquei a observar atento o trabalho de varredura que o antivírus mostrava na tela, acompanhando os milhares de arquivos pesquisados, torcendo para que o teste se encerrasse e o Generic3.jrl, nome do invasor impertinente, fosse finalmente deletado.

40069 arquivos scanneados depois, dirigi-me sem perda de tempo para a área de resultados do scan test. A palavrinha mágica surgiu, não em luz néon, piscante, reluzente como exigiria a ocasião, mas um simples, em corpo dez ou doze, “deleted”. "Três vivas ao cão de guarda que zela pela segurança deste computador!", gritei entusiasmado.

Após o incidente, uma neurose instalou-se no meu disco rígido de carne, eufemismo tosco que uso para referir-me ao cérebro humano. Generic3.jrl fora abatido em pleno voo, mas, se algum programa espião não localizado estivesse lá dentro, vigiando meus passos, roendo meu Hard Disk, desvendando minha senhas?

Scannei nos arquivos da minha mente por onde os clicks do meu mouse haviam me levado em navegações pelos mares da Internet. Nada de anormal. Não acessei sites pornográficos, abri e-mails com notificação de que eu estava com o nome no SPC e muito menos cartões virtuais suspeitos. Mas, pelo sim, pelo não, compras feitas na rede, de agora em diante, só através da impressão de boleto bancário.

Bons tempos em que Cavalo de Tróia era apenas um presente de grego para troianos, vírus só provocava gripe e espião coisa de aventuras filmadas do James Bond.



Um comentário: